Livro de cabeceira: histórias e outras conversas; nos mares, nos barcos, nas viagens, em todos os lugares. Tudo o que vi, conheci e vivi... ou ainda vou querer.
sábado, 31 de março de 2012
quarta-feira, 21 de março de 2012
Tratado geral das grandezas do ínfimo
“Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso de a menos. Sendo que o mais justo seria o de ter um parafuso trocado do que a menos. A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa disfunção lírica. Nomearei abaixo 7 sintomas dessa disfunção lírica.
1 - Aceitação da inércia para dar movimento às palavras.
2 - Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3 - Percepção de contiguidades anômalas entre verbos e substantivos.
4 - Gostar de fazer casamentos incestuosos entre palavras.
5 - Amor por seres desimportantes tanto como pelas coisas desimportantes.
6 - Mania de dar formato de canto às asperezas de uma pedra.
7 - Mania de comparecer aos próprios desencontros.”
Manoel De Barros
Poesia Completa. Editora Leya. Pg. 400
quinta-feira, 15 de março de 2012
Branco seria uma cor se não fosse tão pesada
e o segundo fio branco,
vem me lembrar o desperdicio
dos dias que espero anoitecer.
Porque viver ficou preso nos 8k de gesso
que tenho que carregar e
que me faz lembrar todo o momento, o eterno desperdício
que se transformou minha vida
depois que me deixei levar pelo acaso.
domingo, 11 de março de 2012
Minha cidade de ilhas
Hoje vou escrever sobre o lugar que, entre tantos outros que conheci e pelos quais naveguei e viajei, eu escolhi para viver.
Aqui no mar da Baía da Ilha Grande existem, segundo uma lenda marítima, 365 ilhas, embora seja verdade que muitas são apenas pedras no meio do caminho.
As charmosas Paraty e Angra dos Reis dividem a responsabilidade geopolítica das águas e ilhas da baía, mas não vou escrever sobre as cidades, e sim sobre as ilhas e praias do meu quintal. As ilhas têm florestas, pertencentes ao ecossistema da Mata Atlântica, que, devo dizer, são de um verde intenso, porque temos um alto índice de chuvas – e é justamente por causa dessas chuvas que temos água doce em abundância, rios e cachoeiras em praticamente todas as ilhas da região.
Algumas pequenas vilas na Ilha Grande, como Abraão, Longa, Proveta, Bananal, Palmas, Saco do Céu, Sitio Forte, têm infraestrutura de pousadas, hotéis e camping, casas para alugar, restaurantes, mini comércios, que oferecem serviços para turistas, como hospedagem, passeios de barco, mergulhos, trekking, durante feriados, fins de semana e períodos de férias.
Até aqui, as informações são comuns a todos os lugares legais de se visitar pelo mundo.
Você pode contratar passeios diários para as ilhas e praias, ou fazer um charter – que consiste em alugar um veleiro – e passar os dias dormindo, cozinhado a bordo e navegando pelas ilhas, enseadas e praias onde só de barco se pode chegar.
A vantagem é que você se move para onde quiser, sem horários fixos, sem carregar malas, escolhe a praia de que mais gostou, além de economizar a hospedagem em terra.
Faço uma observação aqui para dizer que o mar de Angra dos Reis é muito tranquilo, sem ondas grandes ou ventos fortes demais, assim, posso garantir que será uma experiência muito agradável. Por favor, esqueça todos os filmes sobre mares revoltos: aqui isso não existe.
Em um roteiro de três ou quatro dias, você poderá conhecer as praias e ilhotas mais bonitas da Baía de Ilha Grande, verá tartarugas, golfinhos, arraias e uma infinita vida marinha. Nem precisa saber mergulhar, basta máscara e snorkell e estará pronto para assistir a um espetáculo particular.
Agora, se o seu perfil é de aventureiro, gosta de caminhar, subir e descer montanhas, a Ilha Grande tem tudo isso a sua disposição. Trilhas para todos os lados, prontas para a sua caminhada, com percursos de dois até vinte e cinco quilômetros, e de vinte minutos a pé até uma semana de caminhada, percorrendo toda a extensão da ilha. E passando por cachoeiras, rios, praias, picos, todos cercados de Mata Atlântica e mangues.
As praias mais bonitas, em minha opinião de habitante dos mares, são Parnaioca e Lopes Mendes.
Depois, para nadar em águas transparentes com peixinhos coloridos e enormes estrelas do mar, você pode conhecer a ilha de Cataguás, as ilhas Botinas – uma das maiores concentrações de corais e fauna marinha –, a famosa Lagoa Azul – que fica entre as ilhas Comprida, Redonda e Macacos – e, ainda, a ilha da Longa, conhecida popularmente como Lagoa Verde. Se você vier fora de grandes feriados, a outra opção é a ponta de Jurubaíba, onde fica a conhecida praia do Dentista, de areias brancas, coqueiros se debruçando sobre a praia e águas muito claras, com uma fauna que fará você ficar horas nadando sem perceber.
Para dormir, temos a enseada do Sítio Forte, com mais de seis praias, todas com pequenos riachos para um banho de água doce. A praia de Ubatubinha, nessa mesma enseada, tem areia grossa, muito agradável para caminhadas.
Outro lugar especial para dormir embarcado é o Saco do Céu, que leva esse nome porque é uma baía completamente fechada, onde a água quase não se move, e onde se pode ver, à noite, todas as estrelas do céu refletidas no mar… Se você pensa que isso já é todo o espetáculo… Aí vai outra surpresa… Entre na água quando já for noite escura, e terá uma experiência incrível: todo seu corpo ficará iluminado com os plânctons.
Se há mais lugares? Lógico que são muitas praias, mas não vou ficar aqui descrevendo lugares paradisíacos, vou deixar algumas surpresas para você, quando vier descobrir cada cantinho da Baia de ilha Grande.
Existe o risco de você nunca mais querer voltar pra casa!
Como chegar: o mais rápido é viajar de avião até o Rio de Janeiro e seguir dali para Angra dos Reis, 170 km, de ônibus pela Viação Costa Verde ou contratar um transfer de van. De São Paulo, serão 7 horas de viagem de ônibus da Viação Reunidas. Ou ainda de carro pela BR/Santos – Rio.
Dicas: Quando vier conhecer as ilhas, venha com tempo e fora de grande feriados e da temporada de férias, pois durante o verão você corre o risco pegar lugares lotados. Lembre-se de que o verão é a temporada de chuva nessa região. De abril até junho, antes do inverno, os dias são ensolarados e quentes, o mar transparente e as noites agradáveis para dormir sob as estrelas.
Leve chapéu, chinelo e quilos de protetor solar e outro tanto de repelente para insetos, porque afinal eles existem em florestas.
Quem quiser alguma dica sobre roteiros, lugares, ilhas ou mais detalhes, pode escrever para minha coluna de turismo Pelo Mundo. E bem-vindo a bordo.·
Texto publicado originalmente na Revista On Line VitrineRS