Às vezes sou resistente a visitar um lugar clichê, esses cujas fotos já vimos centenas de vezes, em reportagens sobre o paraíso. Se você também é assim, esqueça tudo o que viu ou ouviu até hoje sobre as areias e lagoas dos Lençóis Maranhenses.
Como estava em Recife, fui de avião até São Luiz, depois tomei o ônibus que faz a linha São Luiz – Barreirinhas. A estrada é asfaltada e está em bom estado, e a viagem dura umas quatro horas, com direito a uma parada na beira da estrada para saborear o tradicional e típico refrigerante rosa local, “Jesus”.
Sem uma estação rodoviária, os ônibus que chegam à cidade fazem parada em frente a uma quadra esportiva. Muitos guias chegam querendo te conquistar, num delicioso jogo de delicadezas e gentilezas, oferecendo passeios, pousadas e promessas de paraísos inesquecíveis… Se estou exagerando? Nem um pouco, é assim mesmo que acontece. E não se preocupe, todos os guias são cadastrados na prefeitura e no IBAMA, pois só empresas oficialmente cadastradas podem entrar no Parque dos Lençóis.
Escolhida a pousada, parti para um bom e refrescante banho de rio. Já estava anoitecendo quando resolvi caminhar, explorando as ruas e o comércio de Barreirinhas. A cidade tem bons restaurantes, e a cozinha local agrada aos variados paladares. Outra atração são os sucos, caipirinhas – pra quem curte – e os saborosos sorvetes de frutas nativas.
Passei pela agência de turismo – cujas portas ficam abertas até a chegada do último ônibus – indicada por uma amiga e escolhi o passeio para o dia seguinte. O dia amanheceu preguiçoso e, embora já fosse outono, fazia calor e sol desde muito cedo. Fiquei a manhã toda na rede de frente para o Rio Preguiça.
O caminho que a Toyota fez para nos levar às lagoas Azul, Esmeralda e Dos peixes já era uma aventura, a estrada de areia fofa com trechos com água que, combinados, tornam-se uma perigosa areia movediça. É preciso muita experiência para rodar por ali.
Ao chegar, via somente um mar de areias sem fim. Depois de uma pequena subida, pude ver inúmeras lagoas circundadas pelas dunas, de areias brancas e muito finas. Escorrego do alto das areias e vou mergulhando nas águas transparentes e mornas, tão agradáveis quanto um abraço. Caminho por horas nesses oásis.
Ao entardecer, o sol modifica toda a paisagem, as areias brancas ficam de um vermelho alaranjado, e as lagoas refletem as nuvens coradas no seu silencioso espelho d’água.
O segundo passeio, no outro dia, foi pelas águas do rio Preguiça, passando por mangues, dunas de areias vermelhas, longas lagoas rasas, e o Farol de Mandacaru e Caburé, uma faixa estreita de areia que separa o mar do rio Preguiça. Imagine só tomar banho de mar e de rio, separados por poucos passos, quase ao mesmo tempo.
Dependendo da época do ano, pode-se visitar a lagoa Bonita, que é mais longe da cidade e exige que caminhemos um pouco mais. Ao chegar lá em cima, fiquei sem palavras, nem tanto pela subida íngreme, mas porque se tem a exata dimensão da extensão do parque, dezenas de quilômetros de dunas e lagunas de água doce até chegar ao mar.
O que mais me impressionou foi o vento constante, apagando qualquer marca que deixássemos nas areias, o que torna muito fácil se perder por lá.
Outro passeio que vale a pena é Cardosa, onde se desce o rio de boia, simples assim. O rio tem uma temperatura agradável, águas transparentes, muitas árvores margeando e fazendo sombra. O rio é raso, de fundo de areia branca e correnteza muito fraca, o que nos permite descer lentamente, curtindo a experiência e se divertindo. Não se preocupe, no fim do rio não tem uma cachoeira, o passeio acaba numa espécie de praia.
Depois de cinco dias em Barreirinhas segui viagem, debaixo de chuva, numa Toyota com três bancos na carroceria para Paulino Neves, que foi outra boa aventura. As trilhas (que os nativos chamam de estrada) que nos levam à primeira parada, Paulino Neves, desapareciam em meio às dunas e lagoas, sem quaisquer vestígios que pudessem sinalizar uma estrada. Por ali, vi todo tipo de animais, vivendo livres nos Lençóis Pequenos. Foram quase 4 horas para percorrer 72 km, de uma beleza que me fez esquecer de todo o resto do desconforto.
De lá segui para Tutóia, onde pernoitei durante os dias em que fiquei pela região, nos canais do Delta do Parnaíba, ilhas, dunas, praias desertas, lagoas de água doce e transparente. Vi cavalos selvagens vivendo livremente pelas ilhas, raros guarás azuis, caranguejos vermelhos, a beleza, a delicadeza e as surpresas dos manguezais, onde visitei o berçário de cavalos marinhos nos mangues.
Tutóia é a última cidade do Maranhão, quase na fronteira com o Piauí, pequena, simples e bem organizada, tem até faculdade. A vida cotidiana gira em torno das águas, das marés, da pesca de peixes, do caranguejo transportado aos milhares para todo o mundo, dos barcos e do turismo.
Perdi a noção do tempo andando pelas dunas nas ilhas, nadando no mar e nas lagoas. O tempo parou em algum lugar, talvez sobre as águas prateadas do Delta, caminhei pela praia, sem destino, ainda é muito cedo para partir.
Como chegar:
De avião: até o aeroporto de São Luiz e, de lá, há uma linha de ônibus três vezes por dia para Barreirinhas, ou, ainda, até o aeroporto de Teresina, que fica bem mais perto de Barreirinhas. Outra opção para quem está de carro 4×4, é percorrer o litoral desde Jeriquaquara. Várias agências de turismo oferecem esse tour com veículos apropriados.
Dicas:
Sempre faz calor no nordeste, o que diferencia as estações é que de maio a novembro não chove e, de dezembro a abril, tem pancadas de chuva todos os dias. Portanto, coloque na sua bagagem roupas leves, algumas blusas claras de manga comprida para proteger do sol nas caminhadas, muito protetor solar, boné ou chapéu, óculos de sol, chinelos para andar nas dunas, repelente, máquina fotográfica.
Nos passeios, leve água e algum lanche, porque eles costumam durar muitas horas. Na cidade, há uma agência do Banco do Brasil, um posto do Bradesco que funciona nos Correios, e agências lotéricas para os clientes da CEF.
Para mais informações de passeios, agências ou outras dicas, escrevam para a coluna Prazer em Conhecer.
Artigo publicado na Revista VitrineRS
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