terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Se Me Esqueceres

 

Quero que saibas 

uma coisa. 

Sabes como é: 

se olho 

a lua de cristal, o ramo vermelho 

do lento outono à minha janela, 

se toco 

junto do lume 

a impalpável cinza 

ou o enrugado corpo da lenha, 

tudo me leva para ti, 

como se tudo o que existe, 

aromas, luz, metais, 

fosse pequenos barcos que navegam 

até às tuas ilhas que me esperam. 

Mas agora, 

se pouco a pouco me deixas de amar 

deixarei de te amar pouco a pouco. 

Se de súbito 

me esqueceres 

não me procures, 

porque já te terei esquecido. 

Se julgas que é vasto e louco 

o vento de bandeiras 

que passa pela minha vida 

e te resolves 

a deixar-me na margem 

do coração em que tenho raízes, 

pensa 

que nesse dia, 

a essa hora 

levantarei os braços 

e as minhas raízes sairão 

em busca de outra terra. 

Porém 

se todos os dias, 

a toda a hora, 

te sentes destinada a mim 

com doçura implacável, 

se todos os dias uma flor 

uma flor te sobe aos lábios à minha procura, 

ai meu amor, ai minha amada, 

em mim todo esse fogo se repete, 

em mim nada se apaga nem se esquece, 

o meu amor alimenta-se do teu amor, 

e enquanto viveres estará nos teus braços 

sem sair dos meus. 

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"

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