“Assovia o vento
dentro de mim.
Estou despido.
Dono de nada,
dono de ninguém,
nem mesmo dono
de minhas certezas,
sou minha cara
contra o vento,
a contravento,
e sou o vento
que bate em minha cara."
Eduardo Galeano
Livro de cabeceira: histórias e outras conversas; nos mares, nos barcos, nas viagens, em todos os lugares. Tudo o que vi, conheci e vivi... ou ainda vou querer.
“Assovia o vento
dentro de mim.
Estou despido.
Dono de nada,
dono de ninguém,
nem mesmo dono
de minhas certezas,
sou minha cara
contra o vento,
a contravento,
e sou o vento
que bate em minha cara."
Eduardo Galeano
“Memories may be beautiful and yet
What's too painful to remember we simply choose to forget
So it's the laughter we will remember
Whenever we remember the way we were”.
Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.
PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Imago, 1976, pág. 109.
Quero que saibas
uma coisa.
Sabes como é:
se olho
a lua de cristal, o ramo vermelho
do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.
Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.
Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.
Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.
Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.
Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"
Desfazendo Equívocos
Por Yvonette Silva Gonçalves
Se você quer milagres, não procure o Budismo. O supremo milagre para o Budismo é você lavar seu prato depois de comer.
Se você quer curar seu corpo físico, não procure o Budismo. O Budismo só cura os males de sua mente: ignorância, cólera e desejos desenfreados.
Se você quiser arranjar emprego ou melhorar sua situação financeira, não procure o Budismo. Você se decepcionará, pois ele vai lhe falar sobre desapego em relação aos bens materiais. Não confunda, porém, desapego com renúncia.
Se você quer poderes sobrenaturais, não procure o Budismo. Para o Budismo, o maior poder sobrenatural é o triunfo sobre o egoísmo.
Se você quer triunfar sobre seus inimigos, não procure o Budismo. Para o Budismo, o único triunfo que conta é o do homem sobre si mesmo.
Se você quer a vida eterna em um paraíso de delícias, não procure o Budismo, pois ele matará seu ego aqui e agora.
Se você quer massagear seu ego com poder, fama, elogios e outras vantagens, não procure o Budismo. A casa de Buda não é a casa da inflação dos egos.
Se você quer a proteção divina, não procure o Budismo. Ele lhe ensinará que você só pode contar consigo mesmo.
Se você quer um caminho para Deus, não procure o Budismo. Ele o lançará no vazio.
Se você quer alguém que perdoe suas falhas, deixando-o livre para errar de novo, não procure o Budismo, pois ele lhe ensinará a implacável Lei de Causa e Efeito e a necessidade de uma autocrítica consciente e profunda.
Se você quer respostas cômodas e fáceis para suas indagações existenciais, não procure o Budismo. Ele aumentará suas dúvidas.
Se você quer uma crença cega, não procure o Budismo. Ele o ensinará a pensar com sua própria cabeça.
Se você é dos que acham que a verdade está nas escrituras, não procure o Budismo. Ele lhe dirá que o papel é muito útil para limpar o lixo acumulado no intelecto.
Se você quer saber a verdade sobre os discos voadores ou sobre a civilização de Atlântida, não procure o Budismo. Ele só revelará a verdade sobre você mesmo.
Se você quer se comunicar com espíritos, não procure o Budismo. Ele só pode ensinar você a se comunicar com seu verdadeiro eu.
Se você quer conhecer suas encarnações passadas, não procure o Budismo. Ele só pode lhe mostrar sua miséria presente.
Se você quer conhecer o futuro, não procure o Budismo. Ele só vai lhe mandar prestar atenção a seus pés, enquanto você anda.
Se você quer ouvir palavras bonitas, não procure o Budismo. Ele só tem o silêncio a lhe oferecer.
Se você quer ser sério e austero, não procure o Budismo. Ele vai ensiná-lo a brincar e a se divertir.
Se você quer brincar e se divertir, não procure o Budismo. Ele o ensinará a ser sério e austero.
Se você quer viver, não procure o Budismo, pois ele o ensinará a morrer.