sexta-feira, 24 de julho de 2015

Liberdade é o vento

 

 

“Assovia o vento
dentro de mim.
Estou despido.
Dono de nada,
dono de ninguém,
nem mesmo dono
de minhas certezas,
sou minha cara
contra o vento,
a contravento,
e sou o vento
que bate em minha cara."
 

Eduardo Galeano

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Só por hoje

 

“Memories may be beautiful and yet

What's too painful to remember we simply choose to forget

So it's the laughter we will remember

Whenever we remember the way we were”.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Bagagem

 

Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.

PRADO, Adélia. Bagagem. Rio de Janeiro: Imago, 1976, pág. 109.

quarta-feira, 11 de março de 2015

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Se Me Esqueceres

 

Quero que saibas 

uma coisa. 

Sabes como é: 

se olho 

a lua de cristal, o ramo vermelho 

do lento outono à minha janela, 

se toco 

junto do lume 

a impalpável cinza 

ou o enrugado corpo da lenha, 

tudo me leva para ti, 

como se tudo o que existe, 

aromas, luz, metais, 

fosse pequenos barcos que navegam 

até às tuas ilhas que me esperam. 

Mas agora, 

se pouco a pouco me deixas de amar 

deixarei de te amar pouco a pouco. 

Se de súbito 

me esqueceres 

não me procures, 

porque já te terei esquecido. 

Se julgas que é vasto e louco 

o vento de bandeiras 

que passa pela minha vida 

e te resolves 

a deixar-me na margem 

do coração em que tenho raízes, 

pensa 

que nesse dia, 

a essa hora 

levantarei os braços 

e as minhas raízes sairão 

em busca de outra terra. 

Porém 

se todos os dias, 

a toda a hora, 

te sentes destinada a mim 

com doçura implacável, 

se todos os dias uma flor 

uma flor te sobe aos lábios à minha procura, 

ai meu amor, ai minha amada, 

em mim todo esse fogo se repete, 

em mim nada se apaga nem se esquece, 

o meu amor alimenta-se do teu amor, 

e enquanto viveres estará nos teus braços 

sem sair dos meus. 

Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Não procure o Budismo

 

Desfazendo Equívocos
Por Yvonette Silva Gonçalves

Se você quer milagres, não procure o Budismo. O supremo milagre para o Budismo é você lavar seu prato depois de comer.

Se você quer curar seu corpo físico, não procure o Budismo. O Budismo só cura os males de sua mente: ignorância, cólera e desejos desenfreados.

Se você quiser arranjar emprego ou melhorar sua situação financeira, não procure o Budismo. Você se decepcionará, pois ele vai lhe falar sobre desapego em relação aos bens materiais. Não confunda, porém, desapego com renúncia.

Se você quer poderes sobrenaturais, não procure o Budismo. Para o Budismo, o maior poder sobrenatural é o triunfo sobre o egoísmo.

Se você quer triunfar sobre seus inimigos, não procure o Budismo. Para o Budismo, o único triunfo que conta é o do homem sobre si mesmo.

Se você quer a vida eterna em um paraíso de delícias, não procure o Budismo, pois ele matará seu ego aqui e agora.

Se você quer massagear seu ego com poder, fama, elogios e outras vantagens, não procure o Budismo. A casa de Buda não é a casa da inflação dos egos.

Se você quer a proteção divina, não procure o Budismo. Ele lhe ensinará que você só pode contar consigo mesmo.

Se você quer um caminho para Deus, não procure o Budismo. Ele o lançará no vazio.

Se você quer alguém que perdoe suas falhas, deixando-o livre para errar de novo, não procure o Budismo, pois ele lhe ensinará a implacável Lei de Causa e Efeito e a necessidade de uma autocrítica consciente e profunda.

Se você quer respostas cômodas e fáceis para suas indagações existenciais, não procure o Budismo. Ele aumentará suas dúvidas.

Se você quer uma crença cega, não procure o Budismo. Ele o ensinará a pensar com sua própria cabeça.

Se você é dos que acham que a verdade está nas escrituras, não procure o Budismo. Ele lhe dirá que o papel é muito útil para limpar o lixo acumulado no intelecto.

Se você quer saber a verdade sobre os discos voadores ou sobre a civilização de Atlântida, não procure o Budismo. Ele só revelará a verdade sobre você mesmo.

Se você quer se comunicar com espíritos, não procure o Budismo. Ele só pode ensinar você a se comunicar com seu verdadeiro eu.

Se você quer conhecer suas encarnações passadas, não procure o Budismo. Ele só pode lhe mostrar sua miséria presente.

Se você quer conhecer o futuro, não procure o Budismo. Ele só vai lhe mandar prestar atenção a seus pés, enquanto você anda.

Se você quer ouvir palavras bonitas, não procure o Budismo. Ele só tem o silêncio a lhe oferecer.

Se você quer ser sério e austero, não procure o Budismo. Ele vai ensiná-lo a brincar e a se divertir.

Se você quer brincar e se divertir, não procure o Budismo. Ele o ensinará a ser sério e austero.

Se você quer viver, não procure o Budismo, pois ele o ensinará a morrer.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Casas abandonadas

 

Saint Etienne

 

 

 

 

 

 

 

É normal que a palavra abandonada  nos dê uma ideia de algo ruim ou tenha um conceito negativo,  o abandono nos dá a impressão de  desperdício, mas para mim isso nunca foi assim.
Desde pequena sempre tive fascínio por lugaressorrento italia abandonados, pela beleza como a natureza transforma um lugar depois que os humanos foram embora.
É como se a vida pudesse retomar seu curso, independente do que foi feito pelo homem, os musgos, ervas daninhas, as flores, arbustos e até árvores vão lentamente  crescendo, vivendo e tomando conta do lugar abandonado, e cobrem de beleza o que se tornou feio pelo descaso, então toda a paisagem se transforma em beleza, em mata, floresta.ruinas

 

 

E cada um desses lugares guardam sua história, suas lembranças escondidas nas paredes, muros onde a vida retoma seu lugar desordenado, numa organização que só a natureza é capaz de fazer.

 

Desde muito pequena as casas abandonadas me fascinavam pelas plantas que nasciam nas frestas, pelas flores que enfeitavam o que era feio. Encobria qualquer vestígio do passado, da vida de outras pessoas, numa força verde e contínua, num tapete alto de musgos verdes.

Estrada de ferro, na França

Quando toda vida e morte deserda do lugar,  é nessa hora que o abandono se torna memória, é quando até quem ali viveu ou construiu já não existe, mas sobrevive no verde que cresce como uma homenagem  à vida que continua.
Pois o tempo não para, nem te espera, nem envelhece; se renova a cada chuva, a cada  manhã de sol e reconta os desalentos da humanidade.

 

Klevem, na Ucrânia

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Quero

 

Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.

Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?

Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao não dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.

Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amastes antes.

Se não me disseres urgente repetido
Eu te amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.

 

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Talvez seja esse, o charme da nossa geração.


Dá conversa hoje com um amigo de adolescencia nasceram essas palavras:

É, nós somos de uma geração muito especial
Nós que completamos 50 anos em 2014, e quem tem um bocadinho menos ou um cadinho mais, somos o elo
que une o antigo e o novo tecnológico!!
A gente pode transitar nos dois mundos com desenvoltura e intimidade!
E Podemos sim.
Pois temos a sensibilidade, a nostalgia, a música e o flerte de outrora, aliados à contemporaneidade automatizada de hoje.
Diferente dos nossos filhos, nós brincamos com a velocidade e a frieza do presente, porém, com muito mais poesia.
E indo bem longe, desfrutamos os dois mundos com a mesma intensidade.

terça-feira, 11 de março de 2014

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Depois de tudo ainda estamos vivos

 

Eu que li seu livro inteiro,
fico agora sem entender
onde nascemos um para o outro?
E em que fins levariam nossas vidas
em outras vidas divididas?
Hoje não, meus deuses,
hoje não posso.
Nem é porque tenho tanto a fazer,
mas é pelo tempo que hoje é pesado
e consciente da leviandade com que gastei-o.
Fui embora sem partir.

E deixei um coração coberto de neve e gelo,
que suplica  um calor que não conheceu.
Você é a navalha e o sangue do crime perfeito.
E eu sua testemunha, vítima e algoz.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A porta do infinito



Dramático seria se eu pudesse te ouvir,
não hoje, mas todos os dias à mesma hora.
Quando a vida despreocupada passava
pela varanda da nossa casa.
Odiar quando se está feliz doí menos,
mas não éramos felizes naquele momento.
Alguns infinitos terminam antes que outros,
algumas coisas vazam para o universo
e um dia retornam para nós mesmos com outra forma,
devolvendo ao ciclo o seu fim.

domingo, 26 de maio de 2013

e vou te fazer chorar


O que move o mundo, não é a guerra ou poder econômico, nem a dor ou a miséria humana, nem as religiões ou crenças e muito menos a tristeza.

Semana passada fiquei sabendo  que iria acontecer um evento no Galeão, sábado às 21 horas, amigos, família e curiosos, todos em segredo para viver, ser testemunha e ajudar a realizar um desejo.
Os personagens dessa história são amigos de longa data, há alguns dias tenho recolhido detalhes, falas, olhares do que iria acontecer.
Podia ser no ar, no espaço aéreo internacional, mas foi em terra brasilis;
Ela, não sabia de nada, nem imaginava.
Ele, planejava, articulava e sonhava.
Amigos, familiares, umas vinte cinco pessoas estavam naquele sábado a noite no Galeão, deixaram suas casas, seus afazeres para fazer parte desse pequeno acontecimento que  mudaria o rumo da vida desse casal, estavam todos com cartazes, com palavras e expectativas, corações que pulsavam, e letras que unidas desejavam boas vindas e em segredo um enfático Casa Comigo?
Ela que estava a muitos meses fora do Brasil trabalhando, desce do avião sem saber que seu destino iria mudar, que carregaria consigo a eterna lembrança de um momento mágico.
Ele com a emoção mil, com o coração explodindo de paixão e felicidade.
Se viram, foi numa fração de segundos que Ela deixou para trás as malas e bolsa, correu para os braços dele, e se abraçaram de corpo inteiro, com as pernas envolta da cintura. A essa altura as letras giram e formam o pedido.
Ele se ajoelhou e a pediu em casamento, o que ele disse não deu para ouvir, só os dois ouviram, mas acho que com tanta emoção nem eles lembram exatamente o que disseram.
Depois Ela tomou as letras emprestadas e escreveu sua resposta, Sim.
A felicidade  estava nos olhos de cada um deles, e de todos juntos.
Avó, irmã, amigos,amigas, mães, pai, primos, viajantes de passagem pelo aeroporto, centenas de fotos e das lágrimas coletivas.
Até eu que não estava presente, só de ouvir o relato, fiquei com lágrimas nos olhos.
Porque as pessoas se emocionam com essas cenas de filme, que podem acontecer na vida real?
Por que é o amor que move o mundo.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Os segredos que ficarão comigo

 

Vou começar pelo fim, você teve a indelicadeza de morrer, de morrer antes de mim, ou antes de fazermos as pazes. Para me salvar, melhor que eu te enterre vivo, vivo só para mim que não soube da sua morte a não ser um ano depois, então te enterro vivo dentro de mim todos os dias.
Revivo seus gestos, seus cheiros, suas palavras. Mas hoje será o fim do fim.
Porque o começo do fim foi há muito tempo.
Quando olhei pela janela vi um cenário, quase clichê, mas era ali que eu estava quando recebi sua última carta.
E foi assim secamente que tomei conhecimento da dor que guardei num lugar tão obscuro que enganosamente achei que era esquecimento.
Era tarde mas o sol se estendeu por um tempo que me pareceu longo como minha dor, que não era lancinante, era quase triste, melancólica e irremediável.
O céu tingiu-se de vermelho e escureceu dentro de casa, ficaram as sombras longas me fazendo companhia, o silêncio, vi seu contorno quieto, imóvel e tive que fechar os olhos,
para te ver por inteiro dentro das minhas lembranças.
Como era divertido passar as horas do seu lado, estava sempre rindo fazendo graça do cotidiano, das minhas regras.
Adorava seu primeiro olhar, aquele que descobri quando vc andava distraído e nem imaginava que te observava de perto. O sorriso tímido e bonito.
Nossos olhares se encontraram no meio de tanta gente e ficamos nesse estado de descoberta por tempo o bastante para percebermos que seria muito especial esse encontro.
Agora mesmo com o vento forte nas janelas, distraindo minha atenção, tive a lembrança do nosso beijo, um beijo desordenado e inseguro, tão cheio de emoção e desejo, meu corpo ardia, pulsava descompassadamente e suas mãos puxavam meu corpo para perto do seu.
Quantas brigas deixamos de ter, quantas pazes abrimos mão de fazer, e pior ainda, quantas coisas guardamos um do outro.
Nunca ouvi uma só história sua vindo de você, tudo o que eu sabia eram pequenas frases que colecionava de outras pessoas, de outras fotos.
A noite que nos amamos achei que iria enlouquecer de prazer, achei que seria insano estar viva no dia seguinte, mas algo aconteceu assim que o sol surgiu, e desapareceu tudo o que existiu na noite anterior.
Não éramos mais que estranhos, mas continuávamos ligados pelos corpos suados e exaustos,
hoje não posso mais guardar nenhum segredo, não entre nós dois.
Porque não sobreviverei a mais essa noite, fico me repetindo sua última frase: – Amanhã será um novo dia para nós, mas nem isso é mais uma verdade, só acabou.
Estou tão longe que não vou me despedir, nem participar dos ritos dessa dor, essa ausência será minha para sempre. Você sempre me perguntava: – Se um de nós morrer para que existiram nossos segredos?
Então você não morreu e nem eu muito menos. Sobrevivemos à nossa grande paixão.
Confesso que me lembro de muito pouco do que falamos antes ou durante a última vez que nos vimos, talvez alguns detalhes, moramos longe, fizemos escolhas contrárias, na verdade nunca escolhemos a nós mesmos.
Foi só uma frase sua e um olhar desviado, que me dilacerou a alma e matou minha paz, e eu parti da definitivamente da sua vida e da nossa paixão, eu desisti de amar.
Ao te perder de vez que descobri que ainda te queria, embora houvesse tantos desvãos entre nós. Não soubemos o que era amar na rotina. A vida me buscava nos delírios e você se recolhia ainda mais nas sombras do seu trabalho.
Sua maldita carta em minhas mãos, suas últimas palavras que ficaram sem resposta. Passo os dedos no meu nome escrito, na sua letra conhecida e desejo rasgar em mil pedaços, esconder de mim mesma, desejo só esquecer, para me libertar do amor que insisto em manter no coração.
Nem a luz, sem uma prece, nem a paz! Eu quero um pouco menos desse nada que herdei.
Sei que vou odiar depois de tudo, depois de ler cada palavra, odiarei a mim mesma por ter lido, e a você por não me permitir te dizer nada.

sábado, 27 de abril de 2013

Por enquanto

 

Mudaram as estações
E nada mudou
Mas eu sei
Que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente...

Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era prá sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba...

Mas nada vai
Conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém
Só penso em você
E aí então estamos bem...

Mesmo com tantos motivos
Prá deixar tudo como está
E nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta prá casa...

Renato Russo

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Lua nova

 

Se eu tivesse como
voltava na história
e mudaria o rumo,
a rota e o destino.

Percorria os mares
as montanhas, os rios.
Outras vidas visitaria
outros amores viveria.

Mas, teve a sorte,
que ao meu encontro
tocou minha alma
e fui viver essa vida.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Continua o luto

 

A morte nos visita assim de repente

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Nosso Amor de ontem

 

Alô, Anna?
Podiam se passar mais 20 anos e eu não esqueceria aquela voz, aquele sotaque. Foram três anos somente, mas fez meu coração disparar - num tempo em que não havia email ou redes social, internet então ninguém usava ainda.
Nesses três longos anos, houve dois recados na secretária eletrônica, e três ou quatro interurbanos rápidos.
Anna sou eu Lucca, preciso te ver, estou bem perto do seu escritório, posso subir?
De novo meu coração aos pulos, de novo adrenalina, e respiração ofegante, em segundos revivi cada detalhes daqueles dias, enquanto você tocava a campainha.
Eu estava sozinha, era hora de almoço, de pé quebrado e muletas fui abrir a porta. Nesse momento as recordações são confusas, mas nos abraçamos e nos sentamos no mesmo sofá, você segurou minhas mãos, seus olhos brilhavam e sorriam. Falamos de superficialidades, das coisas que aconteceram com nossas vidas distantes, os casamentos e filhos.
Pedi para você ir embora, implorei ao meu coração que não saísse de dentro do meu peito ainda, não agora, nosso tempo passou.
Deixei um bilhete na minha mesa e pedi um taxi por telefone, e sem saber para onde ou mesmo porque segui para o Café Beaga, e na varanda ao entardecer deixei que todos os momentos que vivemos juntos tomassem vida, só por agora, só por hoje voltei no tempo.
Meu dia não prometia nada demais, só pensava em dançar a noite toda, com Beth e Joana. Andava cansada da rotina, do escritório, mas era quarta-feira e as férias só no próximo ano ainda.
Embora fosse primavera o fim de tarde era agradável, me lembro de ter passado em casa depois do trabalho, e colocado um vestido.
Caminhei até o restaurante da Lucinha para jantar, as meninas já tinham chegado, rimos e nos distraímos por umas duas horas, Betinha inventou de jogarmos palitinho para ver quem pagava a conta. Na mesa ao lado dois caras riam das nossas brincadeiras, trocávamos olhares e cumplicidades.
Joana nem pensou duas vezes, puxou conversa e de repente estávamos todos jogando e rindo. Somente Luca não parecia muito à vontade.
Era hora de irmos dançar, a última rodada do jogo, para ver quem ia ganhar ou perder, eu ganhei e sai da brincadeira de primeira, os outros continuaram mas quando Lucca perdeu, seu olhar encontrou com o meu e eu fiquei sem palavras. Levantei da mesa e na volta do banheiro paguei a conta.
Quando chamaram o garçom e ele avisou que a conta estava paga, Lucca me encarou sem nem piscar e disse que não era certo. - Certo meu caro é quando faço o que eu quero respondi.
Nos levantamos e fomos dançar no Matita Perê. Cláudio e Betinha seguiram no carro de Joana e eu fui com Lucca para ensinar o caminho. Cariocas de passagem pelas Gerais.
Hoje tento me lembrar da música que tocava, mas a única lembrança é que era alta, quase não se podia conversar, dancei só um pouco, decidi ir embora, avisei Joana com um sinal e sai para a rua. Pensei em voltar caminhando embora já passasse da meia-noite e antes mesmo de me afastar dois metros, Lucca me alcançou e me ofereceu uma carona.
Pra falar a verdade eu queria mais que isso. Ouvimos música no carro, estava tocando Yanni, era 1995. Abri a garagem e entramos, com a porta aberta dançamos juntinhos.
O que vivemos depois daquela dança nos quatro dias, quatro noites que se seguiram foi intenso, revelador, desvairado e único, conversávamos, caminhávamos de mãos dadas, riamos, nos entregávamos ao amor insano que nos consumiria em cinzas.
Dentro de algumas horas não nos veríamos mais, e não pude deixar de contar os minutos, desperdiçando esses últimos momentos com pensamentos de despedida. Tanta coisa que faltou te dizer, as promessas que calamos, odeio a razão que me joga na água fria, ser feliz tinha um preço pagável, mas não corri riscos por amor.
E se eu soubesse, teríamos dançado a nossa música ainda uma vez mais.
Mas o nosso destino não se cumpriu!
Abro hoje sua carta, suas últimas palavras, dessa vez não vou deixar para depois, alegria, a saudades, a dor ou tristeza. E se for preciso vou chorar, sorrir e te amar outra vez.

Anna, Meu amor
Se eu pudesse mudar algo na minha vida teria sido o momento que fiquei sentado naquela mesa sem coragem para correr até você e te pedir pra ficar comigo, ou que desistiria de tudo para dar uma chance ao amor.
Estou deitado nessa cama há semanas, me disseram que é grave, tenho poucos momentos de lucidez, vivo num estado de torpor e delírios, as vezes acho que são sonhos somente.
Quanto me arrependo do amor que pelo qual eu não lutei.
Nem vou perder tempo tentando explicar ou me desculpando, sinto que será difícil demais e que dessa vez não tenho forças para seguir adiante.
Ultimamente só me lembro dos dias que passamos juntos, a cada dia que eu acordo agradeço por ter mais um dia revivendo o amor que tive.
Meu amor, amor, amor, seu perfume entrou pela janela agora, e eu deixo você entrar com o sol quente da manhã. Querida não existe aquele deus que te falei, não existe nada a não ser o que vivemos.
O meu tempo acabou, e não suporto mais nenhuma cirurgia, sinto esgotar minhas forças. Sei que não posso te chamar para estar ao meu lado, é tarde demais!
A promessa que você me fez de segurar minha mão e andarmos pela praça, e de envelhecermos juntos; não posso ajuda-la cumprir.
Mas hoje vou dizer o que mais me arrependo de não ter lhe dito, para me perdoar, no dia que foi a última vez que senti seu perfume e ouvi sua voz:
Sim, eu vou! Vou com você para todos os lugares ou para lugar nenhum, não importa, quero me casar com você, com sua alma e viver nosso sonho. Quero que você se case com meu coração e minha alma.
Quero te beijar sob as estrelas que você me descreveu nas noites escuras nos mares desertos.
Mas não me espere mais, guarde meu amor que é a única coisa que posso te dar.
O beijo que te deixo que será sempre seu

Lucca
PS: Adeus , e eu te amo seja lá onde estivermos.

Luca faleceu na terceira cirurgia, depois do acidente, na porta do restaurante, quando saiu correndo na direção oposta que tomei . Eu só vim saber da sua morte um ano depois, quando sua carta chegou em minhas mãos.
Não existem mágoas ou arrependimentos, vivemos o que escolhemos viver. Guardo pra mim a mais linda história de amor que tive a sorte de viver.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

La carta cerrada

 

Tinha acabado de chegar em casa, de viagem, cansada e feliz.
Um amigo que não via há muito tempo, tanto tempo que nem me lembro quando, me chamou, como se fossemos vizinhos, como se fosse ontem que nos vimos atravessando a rua.
Abraços, conversas, e assim de repente ele me conta
que sobre a declaração do amor do nosso amigo em comum.
Veja bem, foi declarado para ele, não a mim, a interessada, como um segredo.
Achei exagero, fiz que não prestei atenção e continuamos outros assuntos, mas antes de nos despedir, como para saldar uma dívida antiga com o nosso amigo em comum, ele me entrega a tal carta.
E me avisa, com lágrimas nos olhos, que ele morreu.
Como, onde, quando, quis perguntar mas, tinha um nó na garganta, me faltou a voz.
- Faz um ano e pouco, logo depois que você esteve lá, num acidente.
Fiquei dois dias com a carta encaixada no espelho, olhando sem tocar.
Agora estou aqui com um envelope nas mãos, sem abrir.
Agora que a morte te alcançou saberei ler seu amor?
Agora que é tarde demais para saber?
E quando o amor acontece numa antiga carta de amor?
Uma carta escrita com sua letra reconhecida.
Te fazendo reviver nas minhas lembranças.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

O Tempo

 

cedrp (7)


Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia:
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A árvore

 

Estava esperando meu pai me buscar na escola, eu tinha 14 anos e 8 meses e muitos dias – nesse ano de 78, vivia andando pelos corredores da escola somente para poder ver o objeto da minha paixão adolescente, mesmo que num relance - ele saindo da sala ou indo ao bebedouro, ou ao banheiro, não importava, cada movimento seu era flagrado pelo meu olhar apaixonado.
Então nesse dia que virou história, no fim do último horário, fui para o ponto de encontro, esperar a carona.
Encosto na árvore, me despeço da minha melhor amiga.
Supiro sonhando em vê-lo mais uma última vez hoje.
De repente fico sem ar, perco o chão e as palavras, fico muda de surpresa, ele – meu primeiro amor – está na minha frente, à dez centimetros do meu rosto, apoia sua mão esquerda no tronco, bem perto dos meus cabelos, tocando-os displicentemente. Queria suspirar, mas só consegui suspender a respiração.
Se ele falou alguma coisa eu não ouvi, sua boca se movia muito perto, os sons das suas palavras se enroscaram com meus frenéticos pensamentos.
Lembro nitidamente do seus lábios tocando os meus, do sabor do beijo roubado, depois da sua língua delicada desvendando o céu, as estrelas, os segredos da minha boca. Nas minhas costas a árvore, cumplice, me empurando para o abraço dele – verde -  verde eram seus olhos, seu agasalho, a árvore, minha blusa, e toda essa doce ilusão.
Só de lembrar meu coração volta à mesma taquicardia daquele dia e sinto os aromas no ar.
Essa história não termina aqui, só situa o fato ocorrido vinte anos mais tarde.
Por coincidências do destino, ou não. Fui a morar do outro lado da rua, onde está a árvore do primeiro beijo.
Durante anos passei por ali centenas de vezes sem me lembrar da sua importância para minha história.
Mas em algumas poucas vezes, quando esperava o sinal fechar para atravessar a rua e ir para casa, tocava de leve e delicadamente o tronco, como um carinho, um agradecimento antigo à testemunha da minha felicidade.
Um dia de fim de primavera, sem chuva, ouvi um barulho de serra elétrica, por curiosidade sai para ver o que era - levei um susto - e num impulso corri para a árvore e me abracei com ela, minha amiga e cúmplice.
Estavam cortando árvores doentes ou com alguma praga. Esbravejei, briguei, liguei para o Ibama, os jornais, prefeitura, TV.
Minha árvore do beijo não podia ser cortada.
Não apareceu muita gente, pra falar a verdade só um amigo jornalista que contei minha ligação afetiva com a árvore e um fiscal do Ibama, que para minha sorte e da árvore, descobriu que não tinham autorização para o corte da mesma.
A operação foi suspensa e eu me comprometi a eliminar a praga da árvore e cuidar dela até que ficasse saudável de novo. E foi o que aconteceu por 4 anos.
Mudei de cidade, de estado, mais de dez anos se passaram e outro dia estive mesma esquina e ela estava lá, alta, forte, grande, sobreviveu ao crescimento desordenado da cidade, à mudanças de trânsito, ao caos da poluição - ela, a minha árvore do primeiro beijo, ainda está lá como a testemunha viva e eterna do meu primeiro beijo roubado.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sem imagem

 

Hoje a minha foto,
será traduzida em palavras
- sem uma câmera -
tive que me deter por mais tempo no mar,
uma laranja cortada ao meio,
se embrenhou nas frestas entre as montanhas,
era ela, a lua.
Que de tão intensa se estendeu num rastro
tocou de leve meus cabelos que boiavam
na água morna do entardecer salgado.
O silêncio se misturou com o vento.
E a lua? Bem a lua de tão alta e inteira
Tingiu o mar de prata e meus cabelos de azul.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Já vi tudo

 

Passarinho que anda com morcego, amanhece de ponta cabeça

morcego

domingo, 17 de fevereiro de 2013

O tempo

 

Você é tudo o que eu amo
Você é toda a minha necessidade
Você é tudo o que vejo na minha frente

Se se olhar por cima do ombro,

Lá eu posso ver o seu sorriso
Mas a gente não pode voltar para trás.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Vida de princesa

 

A princesa que virou onça

Era uma vez, há muito e muito tempo, num reino distante
blá, blá, blá, blá…
Nessa história existia uma princesa e também um príncipe, e um final novo, com um toque de tia feminista:
- Então eles se apaixonaram.
A princesa aproveitou sua liberdade e foi estudar, fazer faculdade, mestrado, aprendeu outros idiomas, depois arrumou um super emprego, comprou um carro e uma bicileta, viajou pelo céu, o mar e a terra, se divertiu com as amigas, dançou e festejou a vida.
E o  príncipe?  Bom o príncipe ficou cuidando do povo do seu reino e das suas obrigações ‘reais’ do palácio.
E ainda assim foram felizes.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Encontros e despedidas

 

 

La vita non è la stazione bensì il treno.

 

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir

São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também de despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida

Milton Nascimento

sábado, 12 de janeiro de 2013

Gargalhadas proibidas

 

Às vezes esperar é um suplício,
outras é melhor esquecer.
Mas se quer saber..
tudo pode mudar
assim num instante,
sem aviso prévio.
O que resta é sorrir,
Pois se não é trágico, é cômico!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Então,

 

standup


Caro Papai Noel

Tá muito frio por ai? Aqui esta um calor perfeito.
E justamente por isso que estou te escrevendo essa carta, sei que é nessa época que todo mundo faz seus pedidos de Natal, suas determinações para o ano novo, e eu pelo meu lado, não vou deixar pra lá essa característica tão humana.
Esse ano fui uma "garota" boa-zinha-, não me lembro de ter feito  nenhuma maldade, tudo bem, talvez algumas sacanagens, mas sacanagem não é do mau.
Comecei até me exercitar, com alguma determinação, tá bom, tá bom que iniciei no mes passado, mas tá valendo, né?
Trabalhei bastante, não muito, mas o suficiente. Paguei minhas contas em dia, mas não tem sobrado muito..
E é ai que você entra nessa história,  hoje fiz minha primeira aula de stand up - com pranhca e remos emprestados - foi um grande exercíco de equilibrio literalmente.
Tinha um ventinho de até 10 nós e ondinhas picadas de uns 20cm, acha que foi fácil? Que nada levei uns oitos tombos, no mar naturalmente, até conseguir ficar em pé e remar; num record pessoal, de 15 minutos remando sem cair. A melhor parte foi quando eu surfei nas ondinhas  de vinte centrímetros, fazendo um "downwind" o nosso famoso vento em popa de velejador.
Não fique achando que foi facinho, tenho certeza que antes do anoitecer terei uma enorme consciência corporal com todos os meus músculos começando a doer, mas não desisti, adorei o esporte, adorei a mobilidade, a sensação de liberdade.
Resumindo, rola de você deixar aqui uma prancha de stand up mais remo?
Anote ai o endereço do Aquarela - Oceano Atlântico Sul, sem número, cais I.
E ai véi se cuide, não pegue friagem, coloque um cachecol porque esse ano o inverno promete, e não se esqueça de mim.

PS: pode ser usada, na boa!! Valeu véi!!

domingo, 25 de novembro de 2012

Um simples resfriado

Devido, confesso,  influência da última administração, constato que tenho uma quantidade anormal de comprimidos na minúscula bolsa de primeiros socorros de bordo.
Conto isso porque cai de cama , assim de repente.
No começo nem dei muita bola, cedi a vontade de ficar na cama, e na escolha do que tomar para aliviar o mal estar,  fiquei com as pílulas rosas, afinal era só um simples resfriado.
Ontem ainda sem ânimo passei para as brancas, as dor se multiplicavam, no corpo, garganta, ouvido.
Mas, hoje que cálculo ser o terceiro dia de prostação, empurrei goela a abaixo as azuis para tosse, as laranjas para febre e se nada melhorar esse irritante mal estar vou apelar para as de tarja preta, já perdi mesmo a noção do tempo, não faço a menor ideia que dia é agora, perder a razão é uma questão de detalhe.

domingo, 2 de setembro de 2012

O que aconteceu?

 

Aqui mesmo eu ja escrevi sobre eles, os vizinhos.
No último mes tenho observado quando posso, a rotina deles.
Mas algo mudou, do casal só veja a mulher que senta na poltrona dele, repete seus gestos e manias.
Sempre as escuras ela se movimenta de forma transparente, silenciosa.
Nunca mais as janelas se abriram.
Ele, o marido desapareceu, nunca mais o vi.
Para encerrar o pensamento constante, o considero morto
e enterro o marido sem lamento ou dúvida.
Embora a vida que segue é tão morta quanto a que não mais existe.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cerrado

O chão estava todo amarelo,
minúsculas flores de ipê pelo  caminho, agora é agosto.
A última vez que vi tudo isso,  fazia muito mais tempo que podia me lembrar.
Guardo na pele a memorial sensorial dessas cores invernais.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Minas é assim dentro da gente

 

Viver é um descuido prosseguido.
Sigo à risca.
Me descuido e vou…
Quebro a cara.
Quebro o coração.
Tropeço em mim.
Me atolo nos cinco sentidos.
Viver não é perigoso?
Então, com sua licença!
Não tenho medo.
Nasci assim.
Descuidado.
Encantado pela vida.
'O sertão é dentro da gente'.
Ah, como não?
Aqui tudo é perdido.
Tudo é achado.
Somos ferro e fogo.
Perigo nunca falta!
Sertão é igual coração.
Se quiser, que venha armado!
Tudo é igual.
Aqui se vive.
Aqui se morre.
Dentro e fora da gente.
Confusão demais em grande demasiado sossego.

João Guimarães Rosa

terça-feira, 7 de agosto de 2012

É só uma canção, mas podia ser um tratado de casamento!!!

 

 

Onde queres revólver, sou coqueiro
E onde queres dinheiro, sou paixão
Onde queres descanso, sou desejo
E onde sou só desejo, queres não
E onde não queres nada, nada falta
E onde voas bem alto, eu sou o chão
E onde pisas o chão, minha alma salta
E ganha liberdade na amplidão

Onde queres família, sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon, sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
Onde queres o sim e o não, talvez
E onde vês, eu não vislumbro razão
Onde o queres o lobo, eu sou o irmão
E onde queres cowboy, eu sou chinês

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres o ato, eu sou o espírito
E onde queres ternura, eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscas o anjo, sou mulher
Onde queres prazer, sou o que dói
E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, revolução
E onde queres bandido, sou herói

Eu queria querer-te amar o amor
Construir-nos dulcíssima prisão
Encontrar a mais justa adequação
Tudo métrica e rima e nunca dor
Mas a vida é real e é de viés
E vê só que cilada o amor me armou
Eu te quero (e não queres) como sou
Não te quero (e não queres) como és

Ah! Bruta flor do querer
Ah! Bruta flor, bruta flor

Onde queres comício, flipper-vídeo
E onde queres romance, rock’n roll
Onde queres a lua, eu sou o sol
E onde a pura natura, o inseticídio
Onde queres mistério, eu sou a luz
E onde queres um canto, o mundo inteiro
Onde queres quaresma, fevereiro
E onde queres coqueiro, eu sou obus

O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é em mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há, e do que não há em mim


O Quereres – Caetano Veloso

sábado, 4 de agosto de 2012

Caravana

 

 

Corra não pare, não pense demais
Repare essas velas no cais
Que a vida é cigana
É caravana
É pedra de gelo ao sol
Degelou teus olhos tão sós
Num mar de água clara

Geraldo Azevedo

domingo, 22 de julho de 2012

Os segredos que compartilhamos

 

 

Casa do Ze  no meio da reforma

É verdade que  passamos a vida nos despedindo de pessoas  queridas, e que também não nos acostumamos com isso nunca.
Viver não será morrer um pouco a cada dia, mas esquecer que esse é o destino de todos nós.
Tínhamos sonhado com uma viagem ao Japão, outro salto paraquedas e lógico mais um monte de pequenas vontades.
Nos vimos no dia do seu aniversário esse ano, e havia um sorriso nos seus lábios  quando nos vimos,  conversamos, rimos.
Quando te conheci  foi amizade a primeira vista, a cumplicidade e o carinho que vc nos acolheu conquistou nossas almas e corações, como era fácil ajudar e ser ajudado por vc.
Com o tempo e o convívio fomos estreitando nossa amizade, conversas por horas a fio, de tudo e de nada, mas principalmente de lembranças suas, quando vc se deixava levar pelos caminhos da saudades e me presenteava com suas histórias complicadas, as vezes divertidas e até confusas. Estávamos sempre às voltas com uma comidinha especial, uma receita nova, ou um vinho para acompanhar essas horas de conversas sem fim.
E lógico das viagens decididas assim de última hora para Mauá, Paraty e São Sebastião.
Compartilhamos  bons momentos de amizade verdadeira.
Vou sentir falta da nossa troca de correspondência, dos fins de tarde, da conversa fiada, dos jantares, das viagens  como a de Mauá que foi super legal, até o carro quebrado e termos que dormir em Resende, a pizza fria de noite, a volta pra Angra de ônibus e da sua amizade bondosa.
Da última vez que nos vimos havia um sorriso no seu olhar, e falamos de tudo ao mesmo tempo, rimos e vc reclamou como sempre dos pequenos detalhes do cotidiano, era só vc sendo vc mesmo. Depois de algumas horas, com o coração explodindo de saudades adiantadas, nos despedimos pela última vez, vc me abraçou forte, como se vc ainda fosse forte com seus  poucos quilos que te mantinham em pé, chegou perto do meu ouvido e me disse adeus. Nos olhamos e soubemos naquele momento que seria para sempre aquele adeus.
Ainda na porta vc me deu conselhos sobre minhas viagens e trabalho, eu acenei de volta agradecendo e  quando a porta do elevador fechou, meus olhos e meu coração choraram silenciosamente.
Agora de muito longe me despeço de vc novamente com lágrimas e um aperto no coração.
Que saudades da nossa amizade única.
Zé hoje, pensando em vc fiz seu risoto predileto, bom apetite!

Nossos banquetes!! João, Chris, Beto e Zé na casa de Ivan e Egle

Viagem a S. Sebastião na casa da Agis

Viagem à V. de Mauá, Chris, Zé, Doris e Zurawel

 

PAsseio em PAraty, com Mara, Hélio, Josi, Chris e Zé

bracuhy (2)

 

Poker se divertindo no bracuhy com o Ze

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Maluco Beleza


 

Caminhando pela rua de pedestre ele viu um casal de turista ser abordado por um homem.
Continuou andando até que ele mesmo foi abordado, teve um pouco de dificuldade para entender o que o homem lhe ofereceu, por causa do sotaque.
Por fim disse: – não, não!!
E começou a rir sozinho por algum tempo, ria sem parar, pensando com seus botões:
– ok, sou careta mas, vá lá… até posso comprar seu haxixe moço, mas o que vou fazer com isso, é de cheirar, fumar? Talvez fazer um chá, comer ou de passar no cabelo?
Tinha que vir com instruções de como usar.
Ficou rindo até chegar em casa… de mãos vazias.

PS: qualquer hora conto onde e quem foi o protagonista dessa história.

terça-feira, 29 de maio de 2012

A cidade se cobre num tapete vermelho

 

 

colonia (12)

 

Chegamos nessa cidade numa manhã de outono, bem cedo. Quando o ônibus entrou na rodoviária, já havíamos decidido passar algumas horas por ali e depois seguir viagem. Deixamos as mochilas no guarda-volumes, compramos a passagem para ir a São Carmelo para o fim do dia. Colônia Del Sacramento seria somente uma visita de passagem, por recomendação de um amigo.
Mas que nada, alguns passos e a cidade te espera coberta por um tapete acobreado, todos os tons das folhas de outono cobrindo as ruas, não precisamos mais do que cinco minutos para decidir ficar mais um dia.
Achamos um albergue, fomos almoçar e, na hora da siesta, pegamos as mochilas e trocamos a passagem para o dia seguinte. E fomos caminhar pelas ruas estreitas, de pedras, entre as casas antigas de paredes com ângulos estranhos, as ruas de nomes em português, tudo singular e muito bem preservado. Nas ruas, carros antigos estacionados como esculturas ao ar livre completam o charme do lugar, alguns ainda circulam pela cidade, fazendo você entrar numa viagem no tempo para o início do século passado.
Depois da primeira praça coberta de folhas vermelhas e alaranjadas, como num filme, avisto o Farol Del Sacramento, que fica dentro da cidade, onde você pode agendar uma visita se quiser. Foi nesse momento que descobri que essa cidade entraria na minha lista de lugares especiais para morar, aqueles projetos que são mais que sonhos futuros, são desejos num cantinho do coração.
Ela está às margens do Rio da Prata, é um lugar abrigado para embarcações, e se surgir o desejo de ir até lá velejando, a marina tem bons preços para aqueles que se aventuram a chegar de barco.
Colônia Del Sacramento foi a única cidade de origem portuguesa fundada, em 1680, no Uruguai, disputada durante séculos pelas coroas de Portugal e Espanha. A cidade conserva ainda na sua arquitetura as características lusitanas da colonização, e boa parte das fortificações são originais da época do português Manuel Lobo, fundador da cidade. E em 1995 ela foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.
As principais atrações estão no Bairro Histórico: a Porta da Cidadela, onde se pode avistar toda extensão do Rio da Prata, cujas águas, embora escuras, tornam a paisagem muito bonita, principalmente ao entardecer.
A Rua dos Suspiros, que, segundo a lenda local, leva esse nome porque havia ali um prostíbulo de onde se podiam escutar os suspiros das moças que ali trabalhavam.
Tem ainda o Beco da Saudade, a Igreja Matriz e o Convento de São Francisco, a Casa do Vice-Rei, além, é claro, de todas as praças e bancos para se sentar e ficar observando o movimento das pessoas e carros antigos, do vento nas folhas das árvores. Há também muitas lojas de artesanato local, obras de artes, charmosos cafés com mesinhas nas calçadas.
Um pouco mais longe do centro histórico, está a Praça dos Touros no complexo real de São Carlos, um belo passeio que pode ser feito de bicicleta, são seis quilômetros de uma paisagem que por si só já fazem valer o esforço.
E assim desse jeito delicado, fomos sendo conquistados dia após dia pela pequena Colônia Del Sacramento. Depois da segunda vez em que mudamos a data da partida, a recepcionista da rodoviária tornou-se amiga, afinal adiamos nossa despedida da acolhedora Colônia Del Sacramento por quatro vezes, e ela sempre dizia ao nos ver: Hoy está más enamorado que ayer por mi ciudad, así hasta mañana! (Hoje estás mais enamorada do que ontem pela minha cidade, então até amanhã!)

Como chegar:
Colônia Del Sacramento está bem em frente a Buenos Aires, Argentina, na margem oposta do Rio da Prata. São quarenta quilômetros de travessia de barco, no Buquebus http://www.buquebus.com/ ou no Seacat http://www.seacatcolonia.com/ . O Ferryboat transporta carros de passeio e passageiros a pé.
Se vier de carro a partir de Punta Del Este, serão cerca de trezentos quilômetros de estrada, mais ou menos três horas de viagem. E, de Montevidéu, são cento e oitenta quilômetros, quase duas horas de ônibus ou carro.
Outra opção é o Aeroporto Internacional Laguna dos Patos, em Colônia Del Sacramento, que fica uns seis quilômetros do centro.

Dicas:
Assim que chegar, procure as informações turísticas para pegar mapas, guias, horários de funcionamentos dos museus, transportes urbanos, hotéis e o que mais precisar. Os uruguaios são muito educados e recebem bem o turista. Existem hotéis para todos os gostos e bolsos, com um denominador comum: quase todos têm internet e bicicletas para os hóspedes, e a cidade é praticamente plana.
Há muitos mosquitos no verão, por isso, lembre-se de levar repelente. Já no outono é frio, bastante frio por causa do vento constante e a proximidade das águas do Rio da Prata, a umidade aumenta mais ainda sensação térmica de frio.
Se você não tem muito tempo, o ideal é pelo menos ter três a quatro dias para conhecer a cidade, que oferece ótimos restaurantes, bares com música à noite e ainda shows e apresentações culturais quase todos os dias.

Artigo publicado originalmente na minha coluna Pelo Mundo, na Revista Vitrine RS

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Anote

 

Numa noite como essa, com chuva  e frio,
pegue  4 tomates  pelados e triturados.
Numa  panela  funda coloque  um dente  de alho inteiro com um pouco  de manteiga, algum  gengibre ralado e frite por um minuto.
Acrescente o tomate e aumente  o fogo.
Junte cardamomo (meu tempero predileto e secreto,)raspas  de  laranja, nós moscada, pimenta  dedo  de moça,
suco de 2 laranjas, uma pitada sal.
Para ficar  exótico um fio de  mel .
Quando  ferver desligue.
Já no prato coloque  um pouco  de creme  de leite batido ligeiramente com  parmesão
Um último fio de azeite.
Folhas  de manjericão .....
Bon Appétit
Deu vontade ?

e é exatamente o  que vou fazer  assim  que apertar publicar post...

domingo, 8 de abril de 2012

Um charme

 

DSCN0790

Em meio às montanhas das Minas Gerais, muito perto de São João Del Rey, nasceu essa pequena cidade de nome São José Del Rey, ao no pé serra.
Hoje ela é conhecida como a delicada Tiradentes. Suas ruas de calçamento de pedras, sua gente tranquila e mais a cozinha mineira saborosa, fazem desse lugar um destino em todas as épocas do ano.
É cercada pela Serra São José, onde a natureza oferece uma mata de árvores retorcidas, típicas das Gerais, cachoeiras, parques ecológicos, para as caminhadas, trilhas, passeios de bicicletas e botes, rapel, e o balneário Águas Santas, com piscinas quentes naturais, pousadas simpáticas e agradáveis para quem quer somente descansar, ler, escrever um poema, ficar de preguiça na rede olhando as montanhas ou simplesmente desfrutar desse ambiente histórico.
Tiradentes oferece um turismo de charme, além de várias atrações culturais no calendário da cidade, como Festival de Cinema e Festival de Cultura e Gastronomia.
Há ainda os espetáculos: Teatro de Marionetes, Concerto De Música Barroca na Matriz de Santo Antônio – tocado no órgão datado do século VIII – sempre as sexta-feira às 20h30 (melhor reservar os ingressos porque é muito concorrido).
E, claro, há ainda um capítulo à parte, que é o passeio de Trem Maria-Fumaça. Antes de embarcar, visite o museu na estação de trem Tiradentes, e se deixe envolver pela atmosfera de todas aquelas antiguidades.
Assim, depois da visita ao museu, sua viagem continuará a bordo da locomotiva americana a vapor, do início do século XX. Serão treze quilômetros, percorridos em um pouco mais de meia hora. O trem ainda está todo original, o banheiro, com suas louças pintadas à mão, é uma obra de arte.
Agora deite seu olhar sobre a paisagem emoldurada pela janela, passando lentamente no ritmo cadenciado das rodas nos trilhos do trem, tudo isso fará você mergulhar no tempo, imaginando os personagens da nossa história, que, assim como você, fizeram esse mesmo trajeto, olhando pela mesma janela e talvez sonhando com tempos futuros, vislumbrando um Brasil independente.
A minha dica para esse passeio é pegar o trem pela manhã para São João Del Rey e passear o dia todo na cidade, visitar museus e igrejas, voltando somente no fim do dia, aos tons do entardecer – suas fotos vão ficar lindas!
Em cada esquina de Tiradentes, há uma casa antiga, rodeadas de lojas de artesanatos, museus, bares e restaurantes, tudo muito bonito e charmoso. Restaurantes com a mais tradicional e incomparável comida mineira.
À noite, passeando pelas ruas da cidade, numa temperatura agradável, nem frio nem calor, você vai encontrar a boa música mineira ao vivo, nas praças ou bares, enquanto você pode saborear um gostoso caldinho de feijão com torresmo ou um pão de queijo com café e leite.
Para se despedir da cidade, decerto já com saudades adiantadas, leve os doces típicos da região, talvez uma boa cachaça mineira – para ter em casa um pouquinho dessa charmosa cidade.
Pé na estrada e boa viagem.

Artigo publicado originalmente na Revista on line Vitrine RS.

sábado, 31 de março de 2012

# Fica a dica

 

Frases que fui recolhendo na rede, acrescentei outras e juntei tudo aqui :


Ninguém é tão feio como na identidade
Tão bonito como no Orkut
Tão feliz quanto no Facebook
Tão simpático como no Twitter
Tão ausente como no Skype
Tão ocupado como no MSN
Tão romântico como no Tumblr
Tão competente como no Linkedin
Tão engraçado como no Blog
Tão descolado como no My Space
e nem tão bom quanto no Currículo Vitae

quarta-feira, 21 de março de 2012

Tratado geral das grandezas do ínfimo

 

“Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso de a menos. Sendo que o mais justo seria o de ter um parafuso trocado do que a menos. A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa disfunção lírica. Nomearei abaixo 7 sintomas dessa disfunção lírica.

1 - Aceitação da inércia para dar movimento às palavras.
2 - Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3 - Percepção de contiguidades anômalas entre verbos e substantivos.
4 - Gostar de fazer casamentos incestuosos entre palavras.
5 - Amor por seres desimportantes tanto como pelas coisas desimportantes.
6 - Mania de dar formato de canto às asperezas de uma pedra.
7 - Mania de comparecer aos próprios desencontros.”

Manoel De Barros
Poesia Completa. Editora Leya. Pg. 400

quinta-feira, 15 de março de 2012

Branco seria uma cor se não fosse tão pesada

Faltam 49 meses para 50 anos
e o segundo fio branco,
vem me lembrar o desperdicio
dos dias que espero anoitecer.
Porque viver ficou preso nos 8k de gesso
que tenho que carregar e
que me faz lembrar todo o momento, o eterno desperdício
que se transformou minha vida
depois que me deixei levar pelo acaso.

domingo, 11 de março de 2012

Minha cidade de ilhas

 

enseadadaestrela

Hoje vou escrever sobre o lugar que, entre tantos outros que conheci e pelos quais naveguei e viajei, eu escolhi para viver.
Aqui no mar da Baía da Ilha Grande existem, segundo uma lenda marítima, 365 ilhas, embora seja verdade que muitas são apenas pedras no meio do caminho.
As charmosas Paraty e Angra dos Reis dividem a responsabilidade geopolítica das águas e ilhas da baía, mas não vou escrever sobre as cidades, e sim sobre as ilhas e praias do meu quintal. As ilhas têm florestas, pertencentes ao ecossistema da Mata Atlântica, que, devo dizer, são de um verde intenso, porque temos um alto índice de chuvas – e é justamente por causa dessas chuvas que temos água doce em abundância, rios e cachoeiras em praticamente todas as ilhas da região.
Algumas pequenas vilas na Ilha Grande, como Abraão, Longa, Proveta, Bananal, Palmas, Saco do Céu, Sitio Forte, têm infraestrutura de pousadas, hotéis e camping, casas para alugar, restaurantes, mini comércios, que oferecem serviços para turistas, como hospedagem, passeios de barco, mergulhos, trekking, durante feriados, fins de semana e períodos de férias.
Até aqui, as informações são comuns a todos os lugares legais de se visitar pelo mundo.
Você pode contratar passeios diários para as ilhas e praias, ou fazer um charter – que consiste em alugar um veleiro – e passar os dias dormindo, cozinhado a bordo e navegando pelas ilhas, enseadas e praias onde só de barco se pode chegar.
A vantagem é que você se move para onde quiser, sem horários fixos, sem carregar malas, escolhe a praia de que mais gostou, além de economizar a hospedagem em terra.
Faço uma observação aqui para dizer que o mar de Angra dos Reis é muito tranquilo, sem ondas grandes ou ventos fortes demais, assim, posso garantir que será uma experiência muito agradável. Por favor, esqueça todos os filmes sobre mares revoltos: aqui isso não existe.
Em um roteiro de três ou quatro dias, você poderá conhecer as praias e ilhotas mais bonitas da Baía de Ilha Grande, verá tartarugas, golfinhos, arraias e uma infinita vida marinha. Nem precisa saber mergulhar, basta máscara e snorkell e estará pronto para assistir a um espetáculo particular.
Agora, se o seu perfil é de aventureiro, gosta de caminhar, subir e descer montanhas, a Ilha Grande tem tudo isso a sua disposição. Trilhas para todos os lados, prontas para a sua caminhada, com percursos de dois até vinte e cinco quilômetros, e de vinte minutos a pé até uma semana de caminhada, percorrendo toda a extensão da ilha. E passando por cachoeiras, rios, praias, picos, todos cercados de Mata Atlântica e mangues.
As praias mais bonitas, em minha opinião de habitante dos mares, são Parnaioca e Lopes Mendes.
Depois, para nadar em águas transparentes com peixinhos coloridos e enormes estrelas do mar, você pode conhecer a ilha de Cataguás, as ilhas Botinas – uma das maiores concentrações de corais e fauna marinha –, a famosa Lagoa Azul – que fica entre as ilhas Comprida, Redonda e Macacos – e, ainda, a ilha da Longa, conhecida popularmente como Lagoa Verde. Se você vier fora de grandes feriados, a outra opção é a ponta de Jurubaíba, onde fica a conhecida praia do Dentista, de areias brancas, coqueiros se debruçando sobre a praia e águas muito claras, com uma fauna que fará você ficar horas nadando sem perceber.
Para dormir, temos a enseada do Sítio Forte, com mais de seis praias, todas com pequenos riachos para um banho de água doce. A praia de Ubatubinha, nessa mesma enseada, tem areia grossa, muito agradável para caminhadas.
Outro lugar especial para dormir embarcado é o Saco do Céu, que leva esse nome porque é uma baía completamente fechada, onde a água quase não se move, e onde se pode ver, à noite, todas as estrelas do céu refletidas no mar… Se você pensa que isso já é todo o espetáculo… Aí vai outra surpresa… Entre na água quando já for noite escura, e terá uma experiência incrível: todo seu corpo ficará iluminado com os plânctons.
Se há mais lugares? Lógico que são muitas praias, mas não vou ficar aqui descrevendo lugares paradisíacos, vou deixar algumas surpresas para você, quando vier descobrir cada cantinho da Baia de ilha Grande.
Existe o risco de você nunca mais querer voltar pra casa!

Como chegar: o mais rápido é viajar de avião até o Rio de Janeiro e seguir dali para Angra dos Reis, 170 km, de ônibus pela Viação Costa Verde ou contratar um transfer de van. De São Paulo, serão 7 horas de viagem de ônibus da Viação Reunidas. Ou ainda de carro pela BR/Santos – Rio.

Dicas: Quando vier conhecer as ilhas, venha com tempo e fora de grande feriados e da temporada de férias, pois durante o verão você corre o risco pegar lugares lotados. Lembre-se de que o verão é a temporada de chuva nessa região. De abril até junho, antes do inverno, os dias são ensolarados e quentes, o mar transparente e as noites agradáveis para dormir sob as estrelas.
Leve chapéu, chinelo e quilos de protetor solar e outro tanto de repelente para insetos, porque afinal eles existem em florestas.
Quem quiser alguma dica sobre roteiros, lugares, ilhas ou mais detalhes, pode escrever para minha coluna de turismo Pelo Mundo. E bem-vindo a bordo.·

Texto publicado originalmente na Revista On Line VitrineRS

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Era uma vez

 


        Num mundo de realidade paralela, que podia ser no mar, mas parece que não foi ali a bordo que as coisas se desenrolaram, existe uma garota que resolveu vender um segredo..  foi assim que tudo começou:
        Um grupo de amigos estavam numa festa, e depois de superados alguns níveis alcóolicos, chegaram a conclusão que na vida todo mundo tem um podre, um segredo, do tipo o lado negro da força, mas que  entre eles, amigos, isso fazia parte do fortalecimento da amizade.
       Mas  um  dos rapazes, Júpiter, digamos que se chama assim, resolveu lançar o desafio:  - pois comigo não, ninguém absolutamente, sabe nada.
       Nesse momento o minuto de silêncio pesado foi destroçado por um riso contido dos amigos.
      Abro aqui um parênteses, todos sabiam o segredo dele, somente ele não imaginava que alguém soubesse do seu segredo.
      A testemunha do fato, vendeu o segredo de forma muito discreta aos presentes, em várias outras ocasiões, conseguiu viagens e talvez outros privilégios que não posso contar porque não fui informada.
     A verdade é que o segredo era realmente interessante, e a competência da vendedora de segredo fez com que a coisa crescesse de forma que o mundo inteiro já sabia o segredo, inclusive eu, que não conheço os protagonistas dessa história, mas menos ele Júpiter,  que nem desconfiava  que seu  segredo havia sido desvendado.
      Ninguém falou nada com ele. Foram todos amigos, não julgaram nem destroçaram a reputação de Júpiter.
      Porém o segredo se espalhou pelos quatros ventos da terra e do mar. Na minha opinião ou ele não lembra de nada ou para ele o acontecido não teve nenhum mistério.  Seja o que for:
      Nas mãos a intenção, no verbo a ausência,  na língua dos homens a expressão do desejo.



PS: Pra quem conhece o segredo poucas palavras são a revelação, quanto a mim que não conheço os personagens, não vou fazer como a garota que vendia segredos,  mas deixo aqui nas entrelinhas das palavras o segredo recriado.
Essa história que ouvi, acredito possa  até ser fictícia, mas que talvez seja real ou não, sei lá.

Ouvindo a conversa alheia

 

Um casal conversando no píer:
- Mas querida de baixo da canga você está nua?
- Oras bolas estou de canga!
Eu muito intrometida,  confesso que sou,
não resisti e falei :
- Pensando bem, debaixo das roupas,
todos nós estamos nus!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

El Calafate

 

glaciarpmoreno (18)

     A patagônia é basicamente plana, com centenas de quilômetros de vegetação rasteira em tons de amarelo e vermelho. E, durante todo o percurso, à minha direita, seguindo a estrada rumo ao sul, para El Calafate, tenho como companhia a neve eterna da Cordilheira dos Andes.
     Passo por enormes lagos de uma cor azul esverdeada, quase artificial, o vento forte e constante castiga a vegetação e a minha pele e faz o carro inclinar. O vento, nessa parte do planeta, é um elemento constrangedor, e o frio, indomável.
    A cidade El Calafate é pequena; na rua principal concentra-se o comércio local e, espalhados pelos morros e em torno do Lago Argentino, estão as casas e os hotéis. Simpática e acolhedora, a cidade oferece muitos restaurantes bons, para todos os gostos e bolsos – aproveite o cordeiro, especialidade da região. Possui ainda aconchegantes cafés, chocolaterias e sorveterias. O fim de tarde é muito agradável pelas ruas de El Calafate.
     Existem ainda várias agências de turismo que oferecem passeios ao Parque Perito Moreno e, devo dizer, esse é o ponto alto da visita nessa região.
Rumo ao oeste, saindo da cidade, pegue a estrada de asfalto que circunda o Lago Argentino e aprecie a vista, do lado oposto ainda se avistam as montanhas nevadas da cordilheira dos Andes.
     Depois de percorrida a metade do caminho, as curvas ficam acentuadas, as montanhas com vegetação mais densa e verde, florestas enormes se apresentam à sua frente e, após quase oitenta quilômetros, você vai perder o fôlego: numa curva, de repente, aparece o Glacial, um gigantesco bloco de gelo azul maciço. Na entrada do parque você recebe as instruções, mapas e, depois de pagar, siga de carro por alguns quilômetros dentro do parque, estacione, se for por seus próprios meios, e comece a explorar as trilhas, que são caminhos muito bem organizados e sinalizados, com as distâncias percorridas e o percurso que falta para cada ponto de apoio ou mirante.
     Se a primeira impressão é a que fica, devo confessar que não consegui tirar os olhos nem por um segundo do azul do glacial, é hipnotizante. Dizer que é um espetáculo é cair no lugar comum, e isso é desmerecer a grandiosidade e beleza do Glacial Perito Moreno. Fiquei horas acompanhando o movimento daquele gigante azul, o silêncio solene faz parte do contexto, até os turistas murmuram. Às vezes, a queda de placas de gelo, que se desprendem, despencando lá do alto nas águas frias do Lago Argentino, quebra o silêncio formal, num estrondo que impõe respeito e nos faz desejar estar seguro em terra.
   Tirei centenas de fotos,mas para ser pouco precisa, pois nenhuma chega dar a medida exata do impacto da beleza natural que é o Glacial Perito Moreno, que me surpreendeu a cada minuto que eu passei ali. Só isso já valeria a pena chegar tão longe.
   Deixe-se aquecer pelo sol, protega-se do vento castigante, mas nem pisque para não perder nenhum detalhe, deixe impresso na sua alma essa experiência única.

Como Chegar: O mais fácil é de avião, vindo de Buenos Aires. Existem também várias linhas de ônibus que vão até El Calafate em estradas asfaltadas. Se for de carro, será preciso um pouco de organização e ainda de documentos na entrada do país, um bom guia e alguns mapas, e então se prepare para conhecer a patagônia argentina, pois o caminho já é uma aventura para os olhos.

Dica: Mesmo indo durante o verão, leve agasalhos, luvas, gorros, cachecol, roupas e sapatos confortáveis, e ainda impermeáveis para as caminhadas, pois é uma região que tem um alto índice de chuvas. Use protetor solar mesmo no frio, para proteger a pele de queimaduras.
Se você gosta de experimentar coisas típicas, prove a Cerveza Patagônia, é uma cerveja artesanal, feita na região, de cor um pouco avermelhada e de um sabor delicioso, é imperdível. Para o passeio no parque leve um lanche, água e frutas, faça um piquenique em um dos mirantes dos “senteros”, mas lembre de levar todo o seu lixo de volta.
Existe um Hotel dentro da área do Parque, que funciona somente alguns meses por ano. Todas as suas acomodações têm vistas para as geleiras, e ele é ecologicamente projetado para ser autossustentável – toda a água usada é reaproveitável, e o esgoto 100% tratado . Os preços são bem salgados, mas não se iluda, a procura é grande e, sem reservas, você não conseguirá vagas.•.

Artigo publicado  na Revista on line Vitrine RS

domingo, 15 de janeiro de 2012

Um último adeus



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Hoje é aniversário de nascimento do meu amigo Othmar, faria 70 anos. Os últimos meses que compartilhei da sua companhia pude testemunhar seu melhor lado, nas horas de dor e sofrimento devido sua doença,  quanto mais difícil, menos ele reclamava,  tinha sempre uma brincadeira, sorria quando a dor apertava. Ele sempre foi assim, era sua natureza ser otimista e divertido. Me lembro das brincadeiras que ele junto com amigos faziam, eu mesma fui alvo dessas surpresas divertidas.  Participava de todos os eventos que inventávamos aqui na República das Antas, também conhecido como Bracuhy, de festa junina, teatros a churrascos.
Muitas vezes,  planejamos cardápios de jantares e almoços  que fazíamos com os amigos, nos divertíamos com os detalhes das receitas, pesquisávamos temperos, ingredientes e principalmente a história  de pratos tradicionais que ele tinha vontade de comer,  outras vezes, quando estava  se sentia menos disposto, para receber mais gente em sua casa,  me telefonava e convidava para discutirmos uma ideia nova dele, ou  simplesmente tomávamos vinho e conversávamos por horas sobre qualquer assunto, sobre todas as coisas, ou simplesmente eu ficava ouvindo suas histórias engraçadas, como ele mesmo dizia esses momentos,  eram para enganar a dor.
Uma noite, nas vésperas da minha partida, para meu trabalho no mediterrâneo,  ele me ligou e disse  que tinha um salmão fresco e se eu não tinha uma boa ideia de como fazê-lo. Respondi: – deixe comigo,  vou fazer uma surpresa!
Juntei os ingredientes que precisava e fui pra casa dele, ficamos  conversando enquanto preparava o ceviche, embora simples, é um prato que precisa de tempo para ficar pronto, afinal o peixe é cozido quimicamente, no limão e sal.
Depois da espera regulamentar e algumas taças de vinho para aguardar o jantar. Fomos avaliar mais essa iguaria, foram momentos agradáveis, Othmar não parava de dizer que estava delicioso e que não provava um ceviche à tempos.
Naquela noite ele falou  de quando tinha vindo ao Brasil a trabalho,  coincidentemente  no dia em que nasci, das atrapalhadas com  língua portuguesa para  os estrangeiros, rimos até ele  se distrair da dor. Foi a última vez que o viria. Depois quando já estava na Itália trabalhando, nos falamos algumas vezes pela internet, sobre regatas, comidas, e os planos para futuros banquetes. Sua última fala foi que estava procurando uma receita especial de  Sulz (gelatina de carne), que é o meu prato favorito da cozinha alemã.
Hoje, embora um dia quente, choveu. Nós, os amigos dele, saímos em  barcos para realizar seu desejo: ter suas cinzas espalhadas no mar de Angra.  Foi tudo simples,  bem ao estilo do nosso amigo, e muito emotivo.
Ficou a  saudade de alguém que para nós, era divertido, bem humorado e amigo!


PS: Meu amigo, vou ter que aprender alemão, para decifrar a última receita de Sulz, que você escolheu para fazermos. O “google tradutor” não entende absolutamente nada de temperos alemães.

sábado, 7 de janeiro de 2012

O Dragão e o Cobertor

 

           
                 Numa antiga lenda chinesa, Buda convidou todos os animais da criação para uma festa de Ano Novo, prometendo um presente a cada um dos animais. Apenas doze animais apareceram para a festa e cada um deles ganhou um ano de acordo com a ordem de chegada.
                 Em 2012 o Ano Novo chinês começara a 23 de janeiro. que varia a cada ano por que depende das fases da lua, que é a segunda lua nova do solstício e seu término será no dia 09 de fevereiro de 2013.
                 Esse ano será regido pelo Dragão do elemento água, que é muito propício, segundo as tradições orientais, a grandes feitos,  audazes  negócios, casamentos, ter filhos, acontecimentos que ficarão na história, uniões apaixonantes, um ano especial muito lindo Dragãoaguardado por todos.
                 O Dragão é o único bicho do horóscopo chinês que não existe de verdade, ele é feito de partes de um peixe, tigre, águia e cobra.
                 É um signo poderoso que representa a vitalidade, o entusiasmo, o orgulho, a extravagância e os ideais elevados. Sua imagem, apesar de ameaçadora, não está relacionada ao mal. Ao contrário, o dragão é considerado símbolo de proteção, poder, sabedoria e riqueza, porque o dragão benevolente traz a boa fortuna e a felicidade.
                 Mas devemos olhar com cuidado para os quatro ventos, pois no ano do Dragão, as fortunas assim como os desastres virão em ondas maciças. Este é um ano marcado por muitas surpresas e atos violentos da natureza. A atmosfera elétrica criada pelo poderoso dragão irá afetar  a tudo e a todos.
                 O espírito indomável do Dragão tornará tudo maior. Mas esteja atento, porque poderoso Dragão não é muito prudente.
                 O ano do Dragão de Água traz a todos uma dose de energia extra que possibilita as grandes realizações de sonhos e projetos e favorece as mudanças, o movimento, as viagens e a liderança
                 Com toda essa energia favorável, aproveite para comemorar seu segundo ano novo, de vermelho que é a cor do Dragão, e mãos à obra porque esse ano promete!!

 

uma ideis de tattooSobre o cobertor, o que eu tinha a  dizer é que vai ser muito útil no ano seguinte, depois que o Dragão passar.


Ahhh ia me esquecendo de contar:
– Nasci sob a proteção do signo do Dragão!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Um grande sonho


Eu já naveguei, a trabalho, nesse veleiro e adorei!!
É mais que uma grande oportunidade, é um barco  para ir longe,  realizar sonhos, conquistar portos, visitar ilhas e conhecer os paraísos que estão só esperando  vc chegar para se desvendar.
Bons ventos!!!


 
TaaiFung no Paraguassu2

Vende- se Taai-Fung II

Quase 20  anos após o TAAI-FUNG II ter sido lançado ao mar ( Julho de 1992), em uma inesquecível viagem com nosso filho Pedro e com o casal Maracatu, decidimos vendê-lo.

Não foi uma decisão fácil, afinal este valente veleiro nos levou diversas vezes do norte ao  sul do país e serviu como nossa residência entre dezembro de 2008 e julho de 2011.

Estamos  vivendo um novo momento em nossas vidas. Voltamos a morar em um apartamento, temos  viajado bastante e pretendemos viajar mais daqui para a frente ( afinal não cumprimos nem 1 % dos 100 lugares que devemos ver antes de morrer) e nosso querido TF II começou a sentir-se muito solitário.

Assim, se alguém tiver interesse em um valente SAMOA 29, construído pelos proprietários atuais no Sindicato Ajuricaba, com as especificações e condições abaixo, fazer contato através o telefone (21) 93543848 ou pelo e-mail:   ivan@veleiro.net.

Especificações :

  • Samoa 29′, projeto de Roberto Cabinho Barros
  • Casco em fibra de vidro (resina isoftálica na superfície molhada), convés em ply glass (resina epoxi) estrutura totalmente madeiras de lei (cedro, freijó, compensados Bernek totalmente cedro), cola epóxi.
  • Armação em sloop com um enrolador Nautec e stay volante para storm gib; quilha de ferro fundido de 1.300 kg
  • Mastro Nautec com escada de alumínio, cabos com conexões Norseman
  • Motor diesel Yanmar  2GM20(F), 18HP, refrigeração do bloco com água doce.
  • Hélice auto-embandeirante Max-Prop 3 Blade 14X11  (EUA)
  • Carregador de Bateria Xantrex 40A, 12V
  • Geladeira Waeco Cold Machine VD 04
  • Enrolador de Genoa Nautec nº 2
  • Pau de spinnaker, trilho e carrinho para o pau de spinnaker no mastro
  • 3 sistemas de rizo na retranca, 1 boom preventer
  • 1 vela grande, 1 storm gib, 1 genoa de enrolador 135%, 1 balão assimétrico
  • 1 âncora Bruce legítima de 10 kg com 60m de corrente calibrada (para o guincho elétrico), 1 âncora Fortress FX-16 com 10 m de corrente e 60m de cabo, 1 âncora Danforth 15 kg
  • Guincho elétrico Lewmar Ocean 1 , Gipsy/Capstan, com controle na proa  e no cockpit.
  • 2 gaiútas Lewmar 50×50 e 7 vigias Lewmar
  • Bimini e Targa estrutura inox integrada, Dodger estrutura inox. Targa com equipamento manual para subida/descida do bote inflável e do motor de popa.
  • Rádio VHF Standard Horizon Intrepid LE GX 1265S
  • Rádio SSB,  ICOM  IC 706, MK II, HF/VHF, frente destacável com acoplador automático de antena.
  • Radar Raytheon SL 70 Pathfinder
  • GPS Garmin 76
  • Piloto Automático Autohelm 2000+
  • Ecobatímetro Horizon DS 45
  • Bússola Platismo Contest
  • Gerador Eólico Air Marine (necessita serviço)
  • Chave elétrica geral Guest para 2 bancos de baterias (1 x 100 Ah para o motor + 3x100Ah para uso geral).
  • 2 painéis solares Siemens M65 com controlador automático de carga Sunset Charge Controller CC 10000.
  • 2 tanques de água, separados, com 80 litros cada.
  • Pia da cozinha com cuba inox profunda, água doce e água salgada por bombas Whale de pedal. Fogão de duas bocas e forno  todo de inox.
  • Pia do banheiro com água doce por bomba de pé e chuveiro com bomba elétrica Parr
  • Chuveiro no Cockpit com água doce alimentado por bomba elétrica (mesma do banheiro)
  • Vaso sanitário LaVac com bomba Henderson manual e uma bomba Henderson manual completa de reserva.
  • 1 tanque principal de Diesel todo em alumínio especial, 60 l de capacidade, com copo inferior para coleção de água e detritos equipado com registro manual para descarga.
  • 1 tanque de diesel de reserva, portátil, em plástico, conectável diretamente ao filtro primário de diesel (filtro Racor)
  • 1 filtro de diesel primário (filtro Racor)
  • 1 painel elétrico principal Heat Interface DC Control (12V com 20 posições equipado com chaves magnéticas)
  • Luz de tope 5 light (navegação, âncora e estrobo)
  • Luzes de navegação no nível do convés.
  • Luz de cruzeta (iluminação do convés)
  • Sistema de 110V para conexão ao cais, com chave magnética de proteção, 3 tomadas internas e conector externo Marinco all weather
  • Alternador Balmar de 100A (em substituição ao original de 50A que fica como reserva).
  • Controlador de carregamento inteligente Balmar ARS III
  • Toda a fiação elétrica original com cabos estanhados importados.
  • Bote inflável MiniFlex com bomba manual e remos.
  • Motor de Popa Honda 2HP, 4 tempos, refrigeração a ar, pouco uso.
  • Enorme inventário de peças sobressalentes, cabos, material elétrico, toldos
  • Pintura de fundo nova (setembro 2011) tinta Internacional Micron Premium, 1 demão vermelha e duas cinza.
  • Preço: R$ 120.000,00

Fotos  e mais informações veja aqui  TAAI-FUNGII

domingo, 25 de dezembro de 2011

E porque a vida não é curta, é breve

 

Desejo um ano de 2012 emoções e realizações

Escolhi esse farol em homenagem ao meu amigo Zé e nossas longas conversas .

Desejo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o João-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

 Sergio Jockymann

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O Charme de Fiskardo

 

fiskardho L (6)

Sempre demoro a escrever sobre a Grécia porque é quase uma paixão, e fico achando que falo demais sobre esse pais azul! Azuis nas bandeiras, no céu, no mar e nos telhados das casas branquinhas das encostas das três mil ilhas gregas.
Hoje vou apresentar uma vila muito pequena que fica na ilha Cefalônia, Grécia: Fiskardho.
Conheço essa vila desde 2004 e, embora a visite anualmente, sempre quero voltar, porque além de ser um point de moda, é agradável, com muitas praias de águas azuis e suas pedrinhas brancas .
A pequena cidade está entre as montanhas e o mar, espremida numa estreita faixa de terra plana, com casas muito antigas de no máximo três andares e seus bares, lojinhas, bistrôs, cafés e restaurantes, iates e veleiros que circulam a orla.
Ao entardecer, fique de preguiça numa mesinha à beira mar, distraindo o olhar com os movimentos dos barcos nas águas tão transparentes que se pode ver peixes coloridos. Enquanto isso, prove um Frappe – uma bebida tipicamente grega de café gelado, com bailey’s, sorvete de creme, ou leite e gelo, muito gostosa.
A comida é outra atração, peixes frescos e frutos do mar, iogurte grego, que é o melhor do mundo. Atende a todos os gostos, inclusive vegetarianos, nas saladas gregas, no saganaki – queijo de cabra frito servido com limão siciliano. E, naturalmente, a tradicional Pitagyrros, servido num pão(pita) redondo frito no azeite grego, com carnes de porco, carneiro, frango – assadas como churrasco(gyrros) – tomate, cebola, batata frita e tzatzik (molho a base de iogurte, pepino grego, alho), tudo isso enrolado em formato de cone.
Nessa ilha existem ainda produtos muito característicos, de produção única, como o Vinho Robola. Visitar a vinícola é um ótimo passeio para as tardes nubladas. O mel da Cefalônia é muito particular, de gosto especial com um suave sabor de tomilho selvagem – vegetação nativa da ilha, encontrada em todas as encostas.
Pra quem gosta de ousar, conheça o Ouzo (a pronúncia é Uzo), uma bebida grega feita através da fermentação das cascas das uvas e aromatizada com anis – de alta graduação alcoólica, 37 a 50 graus –, licorosa e transparente, que fica com aspeto leitoso quando adicionado água fria e gelo, muito refrescante, servida sempre com aperitivos deliciosos gregos – Meze.
Caminhadas pela vila ao anoitecer antes do jantar são um charme, não só pelas lojas de artesanato local, como também para andar pela pequena floresta que leva ao farol, de cuja ponta se tem uma visão privilegiada das montanhas e do canal, que separa Cefalônia e Itaka – a ilha de Ulisses.
Fora da temporada de verão, a cidade e praticamente toda a ilha reduzem sua população para 30%, apenas os serviços básicos continuam funcionando. Nos meses de inverno, a ilha é completamente deserta, alguns hotéis fecham nessa época.
Mesmo estando em Fiskardo na ponta norte da ilha, existem muitos lugares para conhecer além das praias, onde a cidade oferece aluguéis de carros, motos, quadriciclos e bikes, a preços razoáveis. Aproveite para visitar o lado oeste da ilha, virado para o mar aberto, onde encontrará enormes penhascos, onde as ondas se jogam com força nas pedras e se vaporizam em milhares de gotas salgadas. O pôr do sol ali é mais um espetáculo, existem bares com decks sobre os penhascos, com bela música grega, ambientes alegres que combinam com férias.
Para comunicar-se na Grécia é preciso um pouco de inglês, os cardápios nos restaurantes costumam trazer fotos dos pratos. Quanto mais para o interior da ilha e fora da alta temporada, mais difícil se torna encontrar alguém que fale inglês fluente, mas isso não é nenhum problema, os gregos são muito educados e sabem agradar os turistas.
Aventure-se em cumprimentar os gregos na língua local quando estiver na ilha, você receberá de volta uma entusiasta e calorosa resposta. Agora umas dicas para receber um sorriso em troca:
Iasus – oi e tchau ( se diz ao entrar num lugar ou quando se vai embora)
Kalimera – bom dia
Kalispera – se diz depois do almoço, vale como boa tarde e boa noite
Kalinikita – é um boa noite para despedidas, quando não verá mais a pessoa.
Parakalo – essa palavra abre portas, significa: por favor, às ordens
Efikaristo – obrigado
Para os ousados, depois de alguns ousos – Ego se agapó / Eu te amo – se ouvir isso, provavelmente você está arrasando corações, mas se é você quem diz, talvez seja melhor parar com o ouso, pedir a conta e voltar para o hotel…
Festas gregas, daquelas em que se quebram pratos, você não vai encontrar em cidades turísticas, mas somente onde os gregos passam suas férias, longe dos lugares comuns para turistas. É possível que num restaurante simples, com mesas debaixo de árvores, aconteça de ter música ao vivo e de as pessoas se animaram um pouco mais e começarem a dançar. Nessa hora, peça outra bebida ou um café e aguarde, vai rolar grandes emoções e pratos quebrando no chão. É contagiante a alegria grega.

Pra chegar: Cefalônia tem um aeroporto internacional com voos de muitos países europeus e alguns do oriente médio e norte da África. Ou você ainda pode chegar até lá de Ferryboat , a partir de Atenas ou da Itália – várias cidades italianas.

Dica: Em Fiskardo existem pequenas pousadas, hotéis e casas para aluguel de temporada. Ou ainda, se gosta de mar e sabe velejar, há muitos barcos confortáveis para charter, que são uma boa pedida, porque, além de dormir a bordo e economizar as diárias do hotel, você ainda pode ir para a praia ou a ilha que quiser, além de fazer algumas das suas refeições a bordo – restaurantes nem sempre são baratos. Para quem não sabe velejar, é possível contratar o barco com um comandante, profissionais que normalmente falam vários idiomas, conhecem muito bem a região e são pessoas divertidas e de fácil convívio.

Artigo publicado na Revista on line Vitrine RS