Caro Papai Noel

Desejos são delírios que temos de vez enquando.
Já acreditei em você mas, depois descobri que era meu tio vestido de vermelho e já um pouco bêbado; e após esse evento não só, não acreditei mais em papai noel como passei a não gostar desse tio por ter mentido pra mim quando perguntei para ele porque?
Décadas depois fiz as pazes com você por causa do meu filho, que acreditou piamente durante anos na sua existência, e foi muito feliz nessa fantasia, e ainda por causa da minha sogra que fazia o Natal parecer uma mágica, esse ano não terei como ligar pra ela e falar de coisas boas.
Muito mais tarde descobri que a fantasia é muito mais importante e fundamental, do que a fé ou a realidade. Foi com meu enteado que me convenci que as fantasias existem somente enquando voce acreditar que elas estão ali do seu lado.
Numa outra fase, meio bruxa; minhas amigas e eu nos reuníamos na noite do dia 25, na minha casa, já sem as festas de famíla, sentadas no tapete, rindo, bebendo vinho, falando de decepções, mudanças, promessas e planos, ouvindo música e sonhando. Então numa dessas noites inventamos um brinde extenso e intenso, cada uma de nós quatro fazia, em voz alta, um desejo como presente para acontecer no próximo ano. Tudo era feito com tal ritualidade, prazer e uma vontade genuína que parecia um compromisso assumido. Haviam ainda umas regras, era preciso ser sincera, desejar uma coisa possível, e beber toda a taça num único gole.
Esse jogo durou anos, chegaram outras amigas, algumas vezes eramos somente duas ou tres mas não importava, existia o brinde assim mesmo e mesmo quem estivesse longe também participava, a rede criou uma linha direta entre nós, e até hoje quando uma não está bem as outras sabem e aparecem de surpresa, ligam ou escrevem, indo direto ao ponto: o que aconteceu?
Funcionava tanto essa conexão, realizavamos nossos desejos, nos sentíamos forte e felizes. O tempo passava e cada uma no seu caminho, cada vez mais longe, mas o brinde era algo que não terminava, se tornará sagrado.
Acho que me perdi nessa carta, mas comecei escrevendo isso porque li uma carta para o papai noel de um adulto, que não acreditava nessas fantasias da infância, um pouco dura, mas que numa última esperança pediu ao papai noel o seu amor de volta. Ela não tinha acabando com o relacionamento, pelo que entendi eles só estavam longe por causa de trabalho. Mas ele tinha chegado a uma idade que estava cansado de estar sozinho sempre, e que ela era tudo o que ele queria para sempre.
Nem imagino o que aconteceu ou acontecerá no seu Natal, talvez nem fique sabendo o resto da história, afinal foi num jornal on line que li essa carta do leitor e nem sei mais como cheguei nisso.
Mas esse ano no dia 25 vou encher minha taça, vou pensar nas minhas amigas e vou fazer um pedido ‘de com força’ como dizia uma delas: que o papai noel realize o pedido daquele senhor, para que ele seja feliz , para que ele acredite na fantasia, para que não deixe a esperança no amor, morrer.